Todos os caminhos levam a Roma, mas a Via Francigena é um dos poucos que ainda seguem esse ditado de forma tão histórica. Uma das rotas de peregrinação mais conhecidas no mundo todo, o caminho dos francos tem início na Inglaterra e passa por mais 3 países: França, Suíça e Itália.
Não se sabe exatamente quando o caminho surgiu, mas os primeiros registros completos encontrados foram do bispo Sigerico, que em 990 d.C. saiu de Canterbury, na Inglaterra, e foi até o Vaticano visitar o Papa João XV. Durante a jornada, Sigerico registrou cerca de 79 pontos em seu diário de bordo.
Além das peregrinações, a rota também serviu para o comércio e transporte entre povoados. Mas a fé foi o que tornou a Via Francigena conhecida e também a elevou ao status de itinerário cultural do Conselho da Europa.
O itinerário tem quase 2000 km e inclui desde as planícies e campos, montanhas e até mesmo cidades litorâneas. A espiritualidade que guia os peregrinos nem sempre é ligada à fé católica, mas sim aos momentos de reflexão e aos desafios da longa travessia.
O caminho de Sigerico: uma rota entre muitas
Vários depoimentos históricos atestam rotas da Via Francigena. Mas a referência mais antiga está em um pergaminho da Toscana, datado de 876.
Outro testemunho é o do bispo inglês Sigerico, que dificilmente eleito arcebispo de Canterbury em 990, foi a Roma para receber o pálio, ornamento símbolo sacerdotal de seu ofício, das mãos do Papa João XV.
É o texto mais antigo até o momento, descrevendo com precisão a jornada de um peregrino no “Caminho dos francos”.
Contudo, seria enganoso identificar a Via Francigena com o único itinerário de Sigerico: o bispo inglês não é o primeiro peregrino nessa rota para Roma, nem aquele que “inventou” uma nova maneira que outros teriam emprestado depois disso.
![](https://retripexplora.com.br/wp-content/uploads/2019/10/via-francigena-01-810x456.jpeg)
Além disso, como já mencionamos, não havia apenas uma estrada, mas as principais direções e uma infinidade de variantes.
Atravessando os Alpes na passagem de Grand Saint-Bernard, a rota de Sigerico foi a mais curta, a mais lógica, favorecendo as planícies, cruzando os mais estreitos rios e montanhas, priorizando os caminhos mais acessíveis.
Poucos pontos do caminho do bispo desapareceram ou não possuem rastros. Mas a maioria passa por cidades importantes e climas muito diferentes.
Via Francigena, desafios, espiritualidade e resistência
![](https://retripexplora.com.br/wp-content/uploads/2019/10/via-francigena-03-810x456.jpeg)
Os milhares de peregrinos que percorrem a Via Francigena relatam a superação dos desafios e fazem metáforas com a vida. Afinal, em uma mesma rota, eles enfrentam desde a chuva, até as dificuldades naturais de se caminhar por vários dias.
Muitas pessoas também passam pela Via Francigena de bicicleta ou em lombos de cavalos. Mas embora o esforço físico pareça menor, as dificuldades e obstáculos também fazem parte da jornada.
A beleza da peregrinação está, na verdade, na força de vontade e disposição para vencer os desafios. Aos que conseguem metaforizar as dificuldades com os problemas mundanos da vida, o presente fica com a superação.
Superar climas extremos, caminhos remotos e dias longe de casa não é nada romântico, mas sim um exemplo de força. Mais do que isso, ao concluir a rota, a maioria dos peregrinos (se não todos) relata uma mudança interior. Seja na forma de pensar e viver a vida, seja na forma de encarar os problemas e encontrar objetivos.
Um caminho de relíquias e monumentos
No decorrer do itinerário, os peregrinos ganham carimbos e selos, ou relíquias, que atestam a passagem e marcam a credencial da Via Francigena. O grande significado desses carimbos é que eles confirmam a peregrinação, uma vez que só podem ser carimbados em determinados pontos.
Mas a credencial não é meramente uma lembrança. Durante o caminho, ela confirma que o viajante é um peregrino e dá acesso a lugares sagrados, além de funcionar como uma espécie de passaporte.
Além de entrar em contato com o mais profundo eu, os peregrinos também têm a oportunidade de passar por várias cidades, descobrindo os costumes muitas vezes escondidos pelo turismo de massa. Isso porque nem sempre as pessoas desbravam o interior dos países.
Lugares santos, monumentos históricos, natureza exuberante, transformações evidentes de paisagens e climas… tudo isso faz parte do pacote de quem percorre a Via Francigena.
Uma ressurreição recente
Nos últimos quinze anos, e após a renovação da peregrinação a Compostela, várias associações trabalharam para o renascimento e reconhecimento da Via Francigena.
Nesse sentido, pesquisas históricas foram realizadas, caminhos foram marcados e, finalmente, a Via Francigena foi declarada uma “Rota Cultural Europeia”, em 1994, pelo Conselho da Europa.
Contudo, o renascimento mais significativo é o que mencionamos acima: a ressurreição dos peregrinos como pessoas. O ato de peregrinar é o grande chamariz da Via Francigena e é o que move pessoas a ouvirem o chamado interior.
A Via Francigena possui um site oficial que dá dicas e informações úteis para quem quer fazer essa rota. Clique aqui para conhecer!