Aos pés do maciço de Bauges fica a pequena Saint Jean D’Arvey. A cidade tem 13km de extensão e aproximadamente 1300 habitantes. Com atmosfera bucólica, recomendo o passeio pra quem gosta de perder o fôlego com vistas maravilhosas, caminhadas pela floresta e principalmente esqui e esportes de montanhas.
Ao contrário do que parece, a cidade não fica isolada nos alpes franceses. Saint Jean D’Arvey fica a 8km de Chambèry e bem próximo a outros lugares. Se você quer saber mais sobre o que fazer na região da capital de Savoie, veja esse post.
O acesso à Saint Jean D’Arvey acontece principalmente de carro ou ônibus, já que devemos subir uma parte da montanha para chegar até lá. Por ser caminho de muitas estações de esqui, Saint Jean é a parada de muitos viajantes que ficam ali apenas um dia.
Vista de cima, a cidade parece uma maquete. As casas não têm muros, são espalhadas pelas pequenas ruas e estradas de terra. As lanternas em formato espiral completam o charme bucólico da cidade. Todas as luzes públicas são apagadas todos os dias às 11 da noite, deixando as ruas na penumbra perfeita para admirar o céu.
O que fazer em Saint Jean D’Arvey?
Caminhadas
Apesar das baixas temperaturas do inverno, uma das coisas que mais fiz durante a minha visita a Saint Jean D’Arvey foi caminhar e explorar a natureza da região. A cidade parece uma vila daquelas que vemos em filmes sobre a época medieval.
Em vários pontos você encontra fontes de água potável. Uma delas carrega os dizeres “a melhor água do mundo” – não sei quais os parâmetros de avaliação, mas parece ser bem mais pura do que muitas águas por aí. Elas vêm direto das fontes, às vezes água de degelo das montanhas.
Uma das trilhas mais bonitas da cidade se inicia próximo ao salão de festas. O caminho de terra leva até o pé da montanha, passando por paisagens incríveis – florestas, outras vilas, córregos e algumas construções de pedra abandonadas. Dependendo da estação do ano é possível se encontrar com animais pelo caminho.
Croix du Nivolet
A 1547 metros do chão, no topo do maciço de Bauges, está a Croix du Nivolet. Uma cruz inaugurada em 1861 que tem acesso através de uma longa trilha que se inicia na estação de ski de La Feclaz. Infelizmente não fiz esse trajeto. Os dias no inverno são mais curtos e a caminhada durante a noite não me pareceu uma opção segura.
Sem dúvidas a recompensa aos viajantes que chegam até a cruz é de cair o queixo. Lá de cima é possível ter uma vista panorâmica de toda a região. Montanhas, cidades, lagos. Sem dúvidas, esse passeio está na minha lista para uma próxima visita.
Mirante de Lovetazz
O meu programa favorito em Saint Jean eram os churrascos que aconteceram entre amigos no mirante da estrada de Lovetazz. Saindo de Saint Jean D’Arvey, essa estrada tem uma parada em um ponto alto, com um banco e uma mesinha. A vista que ainda me assombra com a pergunta “será que eu tatuo essa montanha?”.
Mesmo nos dias mais frios, todos topavam se encontrar nesse lugar para fazer uma fogueira, conversar, tocar músicas e comer churrasco. O clima sempre brasileiro, meio afrancesado. Uma verdadeira troca cultural – ótima oportunidade para fazer bons amigos.
O pôr-do-sol visto desse mirante é uma das paisagens mais inesquecíveis de toda a minha vida.
Mercado local
A cidade não tem um grande comércio. Geralmente os moradores vão até as cidades vizinhas para fazer compras. Salvo pela única padaria, açougue e farmácia que ficam um ao lado do outro no centro de Saint Jean D’Arvey. Todos os dias a rua ficava cheirando a pão fresquinho, uma tentação.
Nas manhãs de sábado, acontece o mercado local. O estacionamento da padaria fica cheio de barraquinhas de produtores vendendo alguns produtos frescos e artesanais. Foi o menor mercado que visitei, mas encontrei queijos deliciosos que não são vendidos em supermercados.
Caça aos cogumelos
Quando as montanhas começam a perder os tons invernais para dar lugar à vida da primavera, os dias começam a ficar mais longos e as pessoas mais animadas. É quando acontece a caça às morilles, cogumelos típicos da região.
Eles são furadinhos e difíceis de serem encontrados frescos no ambiente. Normalmente passam despercebidos no chão, mas no prato se tornam a atração principal.
Quando saí com meus amigos para procurá-los, percebi que a cidade praticamente toda estava na rua. As pessoas escondiam sacos plásticos e andavam sem rumo, à procura dos preciosos cogumelos. O fato curioso é que ninguém admitia o que estava fazendo, com medo de revelar o grande tesouro: onde encontrar as morilles.
Andei bastante pelos campos da cidade, mas não encontrei nenhum. Para não perder essa atração, comprei um potinho que estava à venda no mercado. O preço foi um pouco salgado, paguei 15 euros por alguns morilles. Não preciso dizer que valeu muito a pena, né? Os pratos com cogumelos são geralmente deliciosos.
Saint Jean D’Arvey foi uma das experiências mais marcantes da minha vida. Me senti muito bem acolhido e encontrei ali uma França diferente do que costumava imaginar. Se quiser fugir do clichê francês-bicicleta-baguette-listradinho, saiba que Savoie surpreende.
Na hora de ir embora, confesso que senti um aperto enorme no peito e um nó na garganta. Já estava me acostumando a chamar aquelas montanhas de casa. Sem dúvidas, me surpreendi em cada dia com as descobertas e as experiências que vivi.