Caminho de Santiago – Etapa 1 Saint Jean à Roncesvalles
Vou precisar de muito mais que um post para descrever para vocês, etapa por etapa, O Caminho de Santiago de Compostela. Este é o primeiro, onde divido a experiência que eu e meus amigos Daniel Diniz, Rafael Eudes, Henrique Imberti e Chris Martins vivemos na Espanha, numa travessia de bike, orientada pelo cronograma que pode ser conferido nesta postagem: Caminho de Santiago – Planejando Detalhes do Caminho.
Durante a viagem, resolvemos fazer algumas alterações no percurso. Tínhamos em mente chegar pela manhã à cidade de Santiago. A ideia era sentir a atmosfera dos outros peregrinos que também estivessem concluindo o caminho, presenciar a Missa do Peregrino, realizada diariamente ao meio dia e receber a almejada Compostelana (Certificado dado a quem completa a jornada). Por isso, concluímos que nossa programação talvez dificultasse alcançar esse objetivo.
Dessa forma, optamos por dormir mais próximo do destino final. Escolhemos Monte del Gozo como parada. Foi a escolha. Além de cumprirmos nosso objetivo, ficamos em um albergue muito interessante e comemos um prato peregrino delicioso que descreverei mais adiante. Antes de mesmo de chegarmos a Léon já tínhamos saído da programação, mas por outros motivos que também serão narrados posteriormente.
Meus relatos serão sobre minha vivência de bicicleta, no Caminho de Santiago, ao longo de 14 dias e mais outros dois, até Finisterra, no mês de setembro de 2014. Não é o objetivo destes posts, em momento algum, polemizar sobre a diferença entre quem faz o caminho de santiago a pé ou quem opta por fazê-lo sobre duas rodas, pedalando, escolhendo as trilhas ou carreteras.
Conto minha experiência apenas para contribuir com aqueles que, um dia, pretendem fazer o caminho a pé ou em bicis, e partilhar tudo que vivi nesses maravilhosos dias da minha vida. Contarei estórias e falarei um pouco sobre a história dos locais que merecem destaque. Optei por percorrer o mesmo trajeto que os peregrinos, ainda que, acompanhado pela minha Mountain Bike e só andei pelas carreteiras quando elas estavam paralelas ao caminho. Dessa forma, pude presenciar tudo que um peregrino vê em sua jornada, porém com menos dias na programação.
Etapa 1 – SJPP / Honto (4.9 km) / Orisson (2.8km) / Roncesvalles (17km)
Total da etapa: 24,7 km – Restam: 793,5km
Custo do Albergue em SJPP: 15 Euros – Hostel Ultreia
Custo do Prato Peregrino em SJPP: 12,80 Euros
Não sabíamos ainda, como seria a hospedagem durante o caminho, por isso, na primeira noite, reservamos com antecedência. Ficamos em um quarto com sete camas (cinco eram do nosso grupo) no Hostel Gite Ultréia na Rue de la Citadelle, 8. O café da manhã são 4 euros, mas não acredito que vale a pena. Basta você ir a um supermercado, que em SJPP pode ser facilmente encontrado, e comprar seu lanche. Com um pouco mais da metade desse valor, você prepara seu café da manhã e também um lanche para o decorrer do dia. Que lhe será muito necessário!
Saint Jean Pier de Port é um dos principais pontos de partida do Caminho Francês e foi de onde saímos. De todos com quem comentei que essa cidade francesa seria meu ponto de partida eu ouvia a seguinte expressão: “Que chiquê hein?!”. Acredito que fosse por causa do nome, que pronunciado de maneira correta em francês soa harmônico. Acabei não resistindo em pesquisar o significado do nome da cidade. A tradução de Saint Jean Pied de Port significa “São João ao Pé da Montanha”. Faz sentido! O que ainda não fazia sentido pra mim era o tamanho da montanha que encontraríamos pela frente. Subimos mais de 1200 mt em aproximadamente 15 km, atravessando a cordilheira pirenaica, um dos trajetos mais belos e emotivos da Rota Jacobeia.
A cidade de SJPP (abreviarei pra facilitar) é importante. É basicamente o encontro de três rotas do Caminho de Santiago que partem da França: Paris, Vézelay e Le Puy-en-Velay e está bem próxima da fronteira espanhola, apenas 8 km.
Igualmente como em grande parte das cidades que passamos pelo caminho na Espanha, SJPP também possui uma parte histórica que dá aconchego à cidade. Ao longo da Rue de la Citadelle podemos ver construções do século XVIII feitas com xisto vermelho e cinza (rocha sedimentar composta por matéria orgânica). É possível ver nas paredes das casas a data da construção ou o nome dos donos originais. Muito interessante!
O portal da cidade Porte St-Jaques é o portão de passagem dos peregrinos. Nele se inicia todo o processo de caminhada. Em 1998, a UNESCO o decretou como patrimônio da humanidade, sendo parte do Caminho de Santiago, localizado na França.
Próximo ao portal está a igreja gótica do século XIV chamada de PrÉglise de Notre Dame du Bout du Pont ou Igreja de Notre Dame. Essa é uma catedral com referências bascas. Há uma fonte, decorada com uma vieira, símbolo do caminho, próxima a entrada. A parte lateral da igreja é utilizada como hospital.
Nessa rua principal, circulam peregrinos do mundo inteiro. Pessoas que aguardam pelo início de sua jornada e outras que já estão nela há mais dias. Peregrinantes que estão depositando topo tipo de sentimento nessa trajetória. Para cada um, o Caminho tem um significado. Passar alguns momentos observando tudo isso, sabendo que você também faz parte dessa movimentação é muito prazeroso, pode confiar! Caso você ainda não esteja com sua credencial, pode pegá-la juntamente com o primeiro carimbo nessa mesma rua.
Com um pouco mais de tempo, é possível visitar a Citadel, uma fortaleza do século XVII, que atualmente abriga uma escola. Não é aberta ao público, mas tem uma vista com beleza ímpar.
Na minha opinião, a primeira etapa foi a mais dura. Subir os Pirineus não é tarefa fácil e o “Montrinho verde” (como nós o apelidamos pela dificuldade e não pela beleza, claro!) traz um alto grau de dificuldade em todo seu percurso. Nossa saída de SJPP não foi tão cedo. Como as bicicletas alugadas só chegaram no dia da saída, os ajustes necessários fizeram com que começássemos a travessia as 10:45 da manhã. Sugiro sair bem mais cedo. Esse atraso foi deixando a euforia estampada em nosso comportamento e criando uma vontade gigantesca de começar o pedal.
As primeiras pedaladas logo nos fizeram passar pelo pequeno povoado de Hontto. O piso de asfalto, nas primeiras horas de pedal, facilitou bastante a tarefa, mesmo sendo alta a intensidade da subida. Existe outra opção, uma rota alternativa toda em asfalto passando por Valcarlos. Ela é mais acessível e geralmente utilizada por um grande número de ciclistas. Não foi nosso caso. Queríamos a trilha, o visual espetacular, majestosas paisagens e tudo que o caminho nos pirineus podia proporcionar. Optamos pela Ruta de los puertos de Cize ou Rota de Napoleão.
Depois de oito quilômetros passamos pelo Refúgio de Orisson onde a vista é impressionante! As paisagens nos deliciam com o que os Pirineus nos apresenta. Orisson está a aproximadamente 770 metros de altitude. A subida continuava e vencer os Pirineus se fazia necessário. Desgastante! Lá no alto, em um dos pontos mais elevados da primeira etapa, está a estátua da Virgem de Biakorri. É linda e para quem tem como motivos, a religiosidade ou espiritualidade, é um momento de forte emoção. Apesar dela ser a protetora dos pastores, ela dá a benção a todos os peregrinos!
O lugar é belo, paramos para fazermos algumas imagens aéreas. O Daniel, nosso parceiro do Retrip levou seu Drone (um modelo de avião não tripulado, um quadricóptero) para que pudéssemos ter algumas imagens aéreas e de outros ângulos. Imagens maravilhosas!
O Caminho continua a subir progressivamente, alternando subidas e descidas até a Cruz Thibault. Daí por diante, somente trilhas deixando o asfalto para trás. É bom ficar atento à sinalização. Nessa etapa é comum, além das tradicionais setas amarelas, vermos também os sinais franceses. Eles são representados por dois traços horizontais. Um vermelho e outro branco. Quando estão na horizontal e paralelos indicam para seguir em frente, quando estão cruzados significam que o caminho está errado. Volte e procure por outra marcação correta. Após a fronteira, passamos pela fonte de Rolando onde matamos a sede, nos abastecemos de água. O Paço de Lepoeder é o ponto mais alto dessa etapa e depois de mais algumas subidas, chegamos a ele.
Essa primeira etapa é conhecida por um lugar onde tudo pode acontecer em questão de minutos. Muitos já morreram ali, infelizmente. Vimos algumas indicações de peregrinos que faleceram no local. Mesmo escolhendo o mês de setembro para cumprir essa jornada, porque o clima contribui muito para a passagem dos peregrinos, presenciamos uma mudança repentina, comum nos Pirineus.
Antes de começarmos a nos direcionar para a descida à Roncesvalles, logo após passarmos por um abrigo peregrino (Abrigo de Izandorre) construído para que, em casos extremos, seja possível o peregrino pernoitar, fizemos a opção por entramos em uma área de bosques. Linda e agradável, mas curtimos muito pouco esse visual. Em questão de minutos o clima mudou. Já vínhamos percebendo que uma chuva se aproximava, mas não imaginávamos que ela chegaria da forma e na velocidade que chegou. Uma nuvem preta se aproximou e um vento muito forte fez questão de nos dar boas vindas. Percebi naquele momento o porque da fama do local. Uma forte tormenta de granizo começou e mal deu tempo para colocar as capas de chuva.
O granizo agredia nossos rostos, pensamos em parar, mas não queríamos ficar em uma área repleta de árvores, já que muitos relâmpagos e trovões nos faziam companhia. Nessa delicada situação, procurar por um lugar descampado seria o ideal. Mas ali? Como? Foi meu primeiro momento de grande medo. Por sorte a tempestade não demorou passar. Estávamos, eu e o Daniel, preocupados com os outros que estavam ainda por vir e a escolha entre continuar em baixo de chuva ou aguardá-los, parados, nos remoeu por um bom tempo. Resolvemos esperá-los, afinal estávamos juntos e devíamos continuar assim. Da mesma forma, como veio, a tempestade se foi e como um passe de mágica o susto passou.
A etapa foi sendo vencida e o cansaço tentava a todo momento tomar o comando. Ainda me senti um pouco fora do caminho, pois como foi mucho duro, como dizem os espanhóis, a todo instante passava pela minha cabeça, a possibilidade de fracassar e decepcionar todos que estavam torcendo por mim em terras espanholas.
A descida até Roncesvalles é bem íngreme e sugiro atenção para aqueles que estão de bike. Para os peregrinos que estão caminhando, cuidado com os joelhos. Todo cuidado é realmente pouco!
Chegando em Roncesvalles, já procuramos o albergue municipal, o Real Colegiata de Santa Maria de Roncesvalles. Selamos nossa credencial, comemos um prato peregrino muito bom por sinal, e fomos para cama. O curioso é que, em Roncesvalles, tivemos o primeiro contato com albergues municipais que disponibilizam inúmeras camas. Ainda achei estranho, não por dormir em hostal, pois já estou acostumado, mas dormir em um lugar, um antigo mosteiro, dividindo com mais 127 outras pessoas, do mundo inteiro, não era muito comum para mim. Achei o máximo e nem os ruídos e odores testemunhados durante a noite inteira foram capazes de diminuir a minha euforia por ter terminado a primeira etapa do caminho.
Custo do Albergue em Roncesvalles: 5 Euros – Albergue Municipal
Custo do Prato Peregrino em Roncesvalles: 9 Euros e em todos necessita reserva
Veja o vídeo da primeira etapa: O Caminho de Santigo de Compostela (PARTE I)
Créditos das Fotografias: Antonio Romulo Jr. Daniel Diniz, Rafael Eudes, Christiane Martins e Henrique Imbertti.
Veja a galeria completa de fotos do Caminho de Santiago etapa 1:
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