O caminho de Santiago. O que vi e aprendi?
Sobre o apóstolo Tiago:
Tiago foi um dos doze apóstolos de Cristo. Sua dedicada vida de pregação foi na região da Galicia. Quando retornou a Jerusalém foi decapitado no ano de 42 D.C. Seu corpo foi levado para a Galicia novamente onde foi sepultado.
No século IX, um camponês foi guiado por uma luz e encontrou os restos mortais de Tiago. A luz que mais parecia uma chuva de estrelas deu origem ao nome Compostela que tem exatamente esse significado: Chuva de estrelas. Ali, onde Tiago foi encontrado, foi construída uma capela que seria mais tarde a Catedral de Santiago e então começaram as peregrinações vindas de toda parte do mundo para O Caminho de Santiago.
O Caminho de Santiago possui uma energia muito forte e desconhecida e, segundo a tradição, é essa faixa de energia que faz com que nós, peregrinos, busquemos novos olhares para todas as coisas da vida, movidos pela espiritualidade e pela fé. Os olhos se voltam para o interior e passamos a enxergar muitas coisas que não enxergávamos antes. Independentemente do que você procura no caminho ou do motivo que o leva a trilhá-lo, em um determinado momento é ele que começa percorrer você, trazendo algum tipo de transformação. É inevitável isso!
Não sei bem quando começou esta história. As coisas foram conspirando a favor desta proposta. No início, era apenas uma aventura com amigos por um local onde a história e a beleza se mostram exuberantes, depois um envolvimento espiritual muito grande. Os momentos de pesquisa, a leitura dos relatos e as questões religiosas que cercam o caminho foram construindo os alicerces dessa jornada.
Os relatos de conquistas, as dificuldades encontradas, os propósitos (muitos) da peregrinação foram me fazendo enxergar um outro lado do caminho onde o misticismo se faz muito forte e presente.
As principais coisas que se aprende no caminho são: ter foco e objetivo, aproveitar seu tempo sozinho, não complicar as coisas, aprender com as vivências e convivências do caminho (com outros peregrinos). A gente aprende muito com o ser humano e suas histórias. O que se busca pode nem sempre ser encontrado, mas certamente o caminho acaba sendo uma limpeza da alma e do espírito. Quando estamos vazios, podemos nos encher novamente com coisas boas.
Forte sol, chuvas, às vezes turbulentas, quilômetros e mais quilômetros de distância, tudo isso faz com que o peregrino tenha cada vez mais foco e perseverança. A palavra que sempre o acompanha na mochila é superação.
Ter um objetivo e focar nele facilita e faz com que a busca pelo cumprimento das etapas seja feita sempre com sorriso no rosto, mesmo que, em algumas ocasiões, as condições adversas comecem a sobressair. Dores, machucados e cansaço… muito cansaço. Estes não impedem que a saudação universal do caminho seja dada com um sorriso no rosto. Ouvir um “buen camino” quando encontramos com outro peregrino além de gratificante é motivacional.
Existem vários motivos para se fazer o caminho. Uma aventura, uma viagem turística ou a simples atividade física. Acredito que, independente do motivo inicial, o peregrino não consegue deixar de se envolver com o magnetismo da prática religiosa e espiritual. Além do mais, não sabemos bem quando o caminho nos chama, você só percebe quando já existe dentro de você o desejo de fazê-lo. Deixar o conforto de sua casa, a presença de familiares e amigos e sua vida habitual em busca de novos olhares não é simples. Olhares que também observam a história do caminho que você percorre. As lindas igrejas e os castelos medievais possuem construções que impressionam e a força religiosa se faz presente e inerente.
Encontramos, nos peregrinos, várias motivações. Conversamos com jovens que buscam paz espiritual, alguns outros procuram um aprendizado para a vida. Uns estão atrás de aventura, outros acompanham seus parceiros nesta busca e começam a fazer o caminho despretensiosamente. Vimos pessoas com problemas físicos se superarem, fazendo de seus dias, uma busca por uma solução para problemas que desconhecemos. Cura e milagre também são propósitos que vimos nos peregrinos que conhecemos.
Não existe regra. São homens e mulheres, sozinhos ou em grupos, idosos e jovens, casais, pais e filhos, juntos. Sua principal companheira, a mochila também deve estar em plena harmonia com o peregrino. Mochila pesada é sinal que o bens materiais estão em excesso. É através dela que observamos ausências e sobras na nossa vida.
A vieira (concha) é o detalhe visto em cada mochila ou em cada bicicleta. Ela é o símbolo do caminho. Significa purificação e renascimento e por isso os peregrinos a carregam durante todo o trajeto. O patriotismo também é marca registrada pois os peregrinos também carregam consigo a bandeira de seu país!
O caminho pode começar em diversos lugares. Saint-Jean-Pied-de-Port foi o que escolhemos. Percorrer mais de 800 quilômetros não é tarefa fácil e muitos outros ainda começam na porta de sua verdadeira casa! Esta é uma tradição, principalmente entre holandeses e alemães. Alguns começaram em Paris ou em outras regiões da Europa. Neste caso, são meses e meses caminhando.
A nossa primeira etapa, dos Pirineus, já demonstra bem o que o caminho nos reserva. Um local onde variações climáticas ocorrem instantaneamente e as condições do caminho mudam em questão de minutos. O alto da colina é lindo e no alto das montanhas você também se sente mais livre.
Os albergues são locais de confraternização e também servem como enfermarias. Não se preocupe com o idioma, de uma forma ou de outra, todos sempre se entendem e a comunicação acontece.
O norte da Espanha tem muita diversidade étnica, geográfica e de história também. Alguns pueblos já estão abandonados. Foncebadón, por exemplo, onde a guerra pela independência espanhola a deixou em ruínas, há somente uma tienda (loja) que atende aos turistas que querem conhecer a cidade devastada e deixar uma pedra na cruz de ferro, um pouco mais adiante. Cada pedra depositada ali possui um significado: sacrifício, penitência e agradecimento. Várias vidas estão representadas por pedras na base desta cruz.
Um símbolo do Caminho, a Ponte da Rainha em Puente La Reina acaba nos mostrando dois mundos que se unem em forma de círculo, o material e o espiritual. Parte de cima é o cotidiano e o dia a dia, já o reflexo é o que temos por dentro, nossa espiritualidade. Diz a tradição que se gritarmos de cima da ponte, quando chegarmos em Finisterra ouviremos o nosso grito ecoar. Na foto abaixo não conseguimos registrar o reflexo da ponte na água.
Não se preocupe com a sinalização do caminho. Ele é muito bem sinalizado e as setas amarelas e conchas (usadas na sinalização) estão por toda parte. A preparação psicológica deve ser sua maior preocupação. Até mais do que a preparação física. A ansiedade é a maior vilã da jornada, mas, a partir de um tempo caminhando ou pedalando, vai sendo deixada para trás e o ritmo constante traz paz de espírito.
A chegada é magnífica. A sensação de dever cumprido é uma emoção sem limites. Este ritual de chegada é milenar e celebra uma renovação espiritual. Muitos dizem que é a partir da chegada que o verdadeiro caminho começa. O caminho da vida. E se soubermos aproveitar o que o Caminho de Santiago tem a oferecer, podemos transformar muitas das nossas atitudes pelo resto de nossas vidas.
Espero que o aprendizado nestes dias me conduza para melhores práticas no meu dia a dia para sempre.
Crédito das fotos Caminho de Santiago etapa 14: Antonio Romulo Jr., Daniel Diniz, Christiane Martins, Rafael Eudes e Henrique Imbertti
Veja galeria completa do Caminho de Santiago aqui abaixo:
Reserve seu hotel com a gente, vai!
Nosso blog tem parceria com a Booking.com. Uma reserva através do blog ajuda a mantê-lo pois ganhamos uma pequena comissão. O preço NÃO altera em absolutamente nada e você pode contar com a qualidade Booking.com em suas reservas. Com cancelamento GRÁTIS! É muito simples e seguro.
Clique em :
Booking.com – Hotéis em Santiago de Compostela pela Booking.com
Booking.com – Hotéis em qualquer lugar do Mundo
Venha pra nossa Rede:
Facebook Google+ Instagram Pinterest Twitter